Tenho muitas saudades de ver Elis Regina cantando. Não me lembro de ninguém tão completa como ela sobre um palco. Tinha voz poderosa, dicção perfeita, um gingado de corpo e alegria no cantar que contagiava! Costumo ouvir amigos e familiares da minha idade repetirem o mesmo, exaltando os intérpretes maravilhosos como Elis que tínhamos "naquela época". E comentando que "quase nada de qualidade surgiu depois".
Mas quando me assalta a tentação de fazer coro... lembro da opinião que meus pais e meus avós tinham sobre a música dos anos 60 e 70, que eu adorava, de João Gilberto, Edu Lobo, Geraldo Vandré, Milton Nascimento, Caetano e Chico. As opiniões eram péssimas. Diziam que a Bossa Nova e a MPB tinham melodias e letras paupérrimas, sem harmonia, sem ricos arranjos, e que os intérpretes eram sofríveis, "sem voz". O rock´n roll, então, era "puro barulho ensurdecedor".
Meus avós exaltavam as valsas e chorinhos de Zequinha de Abreu, Chiquinha Gonzaga e Ernesto Nazareth, assim como as interpretações poderosas de Vicente Celestino e Enrico Caruso. Meus pais, crescidos no pós-Guerra, aclamavam Bing Crosby, Nat King Cole e Frank Sinatra como sendo verdadeiros e maravilhosos intérpretes.
E pior: eu mesma comecei, nos anos 90, a menosprezar o que meus filhos adolescentes ouviam e curtiam. E alegando os mesmos motivos: pobreza melódica, letras simplórias e sem conteúdo, pouco mais que refrões repetidos à exaustão.
Custou para "cair minha ficha"! Custei a perceber que cada geração tem a música e os intérpretes adequados às suas filosofias, costumes, conhecimentos e cultura. E que as coisas que "descobrimos" na adolescência e juventude se tornam referências por toda a vida. E se isso ocorre em tudo, também acontece com a música.
Assim, não é de espantar que nossos avós, acostumados a ler partituras complexas de melodias sinfônicas, valsas e chorinhos, e treinados em linguagem musical desde os primeiros anos da escola, abominassem as "simplificações" que vieram nas gerações posteriores.
Da mesma forma, seria absurdo esperar que a geração atual - que não recebeu ensinamento musical na escola ou em casa, tem pouca familiaridade até mesmo com livros e praticamente só se informa pela TV e pela internet - gostasse das letras elaboradas de Chico Buarque, ou do fraseado musical complexo de Ernesto Nazareth (existem exceções, é claro, mas são minoria).
E então compreendi que música também é história - com passado, presente e futuro. E como meu “presente” foi de John F Kennedy, Martin Luther King, Guerra do Vietnã, Movimento hippie, Twigg, Fellini, Pelé, Beatles, Chico e Caetano.... o “presente” dos meus filhos é de Obama, Mandela, Gisele Bundchen, George Lucas, Queen, Guerra do Golfo, Green Peace, Michael Jackson, Ronaldinho, Daniela Mercury e Carlinhos Brown.
E sabe-se lá o que haverá no “presente” de meus netos e bisnetos... Só sei que eles vão adorar!
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