terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Saudades de Elis....

Tenho muitas saudades de ver Elis Regina cantando. Não me lembro de ninguém tão completa como ela sobre um palco. Tinha voz poderosa, dicção perfeita, um gingado de corpo e alegria no cantar que contagiava! Costumo ouvir amigos e familiares da minha idade repetirem o mesmo, exaltando os intérpretes maravilhosos como Elis que tínhamos "naquela época". E comentando que "quase nada de qualidade surgiu depois".

Mas quando me assalta a tentação de fazer coro... lembro da opinião que meus pais e meus avós tinham sobre a música dos anos 60 e 70, que eu adorava, de João Gilberto, Edu Lobo, Geraldo Vandré, Milton Nascimento, Caetano e Chico. As opiniões eram péssimas. Diziam que a Bossa Nova e a MPB tinham melodias e letras paupérrimas, sem harmonia, sem ricos arranjos, e que os intérpretes eram sofríveis, "sem voz". O rock´n roll, então, era "puro barulho ensurdecedor".

Meus avós exaltavam as valsas e chorinhos de Zequinha de Abreu, Chiquinha Gonzaga e Ernesto Nazareth, assim como as interpretações poderosas de Vicente Celestino e Enrico Caruso. Meus pais, crescidos no pós-Guerra, aclamavam Bing Crosby, Nat King Cole e Frank Sinatra como sendo verdadeiros e maravilhosos intérpretes.

E pior: eu mesma comecei, nos anos 90, a menosprezar o que meus filhos adolescentes ouviam e curtiam. E alegando os mesmos motivos: pobreza melódica, letras simplórias e sem conteúdo, pouco mais que refrões repetidos à exaustão.

Custou para "cair minha ficha"! Custei a perceber que cada geração tem a música e os intérpretes adequados às suas filosofias, costumes, conhecimentos e cultura. E que as coisas que "descobrimos" na adolescência e juventude se tornam referências por toda a vida. E se isso ocorre em tudo, também acontece com a música.

Assim, não é de espantar que nossos avós, acostumados a ler partituras complexas de melodias sinfônicas, valsas e chorinhos, e treinados em linguagem musical desde os primeiros anos da escola, abominassem as "simplificações" que vieram nas gerações posteriores.

Da mesma forma, seria absurdo esperar que a geração atual - que não recebeu ensinamento musical na escola ou em casa, tem pouca familiaridade até mesmo com livros e praticamente só se informa pela TV e pela internet - gostasse das letras elaboradas de Chico Buarque, ou do fraseado musical complexo de Ernesto Nazareth (existem exceções, é claro, mas são minoria).

E então compreendi que música também é história - com passado, presente e futuro. E como meu “presente” foi de John F Kennedy, Martin Luther King, Guerra do Vietnã, Movimento hippie, Twigg, Fellini, Pelé, Beatles, Chico e Caetano.... o “presente” dos meus filhos é de Obama, Mandela, Gisele Bundchen, George Lucas, Queen, Guerra do Golfo, Green Peace, Michael Jackson, Ronaldinho, Daniela Mercury e Carlinhos Brown.

E sabe-se lá o que haverá no “presente” de meus netos e bisnetos... Só sei que eles vão adorar!

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