sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Criança perguntadeira.

Porque eu nasci em uma casa espaçosa com quarto, sala, cozinha, jardim e quintal? Com mãe, pai e irmãos que gostam de mim? Se outras crianças nascem nas ruas, favelas, palafitas, muitas vezes sem ter ninguém para cuidar delas?

Porque eu tomo banho todos os dias com água quente e sabonete? E coloco roupas limpas e cheirosas para ir à escola ou passear? Se há crianças que estão sempre sujas, vestindo roupas velhas e descalças?

Porque eu como café da manhã, lanche na escola, almoço e jantar gostosos e quentinhos todos os dias? E ganho doces quando me comporto bem? Se tantas crianças só comem feijão e farinha... quando comem?

Porque me levam ao médico após um espirro ou garganta inflamada? E me tratam com um montão de remédios? Se outras crianças, com pernas finas, barrigas enormes e narizes sempre escorrendo, nunca foram ao médico?

Porque? Por que? Por quê? Quantos porquês! Crianças são chatas e perguntadeiras! Eu sei! Mas o que fazer se não me respondem? Só escuto Sei lá! É a vida! Porque sim! Nunca me dão respostas. Será que vai demorar para eu saber?

E vou crescendo, pensando em um dia saber os porquês. Deve haver um motivo para algumas crianças serem filhas de reis; outras de operários, de pescadores, soldados, ladrões... ou de ninguém, como as que estão nos orfanatos.

Quando eu crescer e aprender a ler vou saber isso nos livros? Quando for à igreja, o padre me dará a resposta? E na escola... será que o professor sabe? Alguém tem de saber! Porque um dia eu vou ter filhos e eles vão querer saber o por quê.